A queda


Isabelle Vinhas de Miranda

Quando a gente entra, entra de cara. Sem olhar se o mesmo se encontra onde deveria estar.

Distraídos, muitas vezes. Preocupados com o turbilhão que nos cerca na nossa vida. Não temos tempo para pensar nas consequências de ficarmos sem chão.

Às vezes ele anda mais rápido que o tempo normal. Acelera forte no início para dar o impulso inicial. Há quem ache perigoso demais e peça manutenção. Existe o número que atende os desesperados.

O imprudente não tem nem mesmo local para se segurar. Se cair, cai com tudo. Com força, dá um frio na barriga. Coração acelera, mãos suam. Tem horas que a gente pensa que nunca mais vai parar.
Também pode ir do zero ao cem em trinta segundos. Nos deixa zonzo, faz nossa cabeça ir às nuvens, nem conseguimos nos orientar direito.

O tempo ali dentro é relativo. Depende se estamos com pressa, afobados. Queremos que chegue logo, insistimos.

Sei que muitos odeiam esperar, principalmente nas filas. Mas a sua vez sempre chega, eventualmente. Uma seta muitas vezes aponta a direção, outras é de surpresa que surge, no susto mesmo.

Curtimos o caminho, porque ele nos leva onde deveríamos estar. Mas preferimos a chegada. A entrega, o momento final que as portas se abrem. Se estamos seguros, sabemos que a viagem foi bem sucedida.

Temos a opção de pegar atalhos, a escada esta ali do lado. Eu prefiro sempre arriscar, a segunda opção exige muito mais esforço físico.

Posso compartilhar essa atividade com um, ou mais de um (até ao mesmo tempo). Preferia que tivesse alguém mais experiente para me guiar ao meu destino. Mas, no fim das contas, eu que tenho que fazer todo o trabalho sozinho.

Pode ter gente recém saindo do lugar que a gente quer entrar. Há quem faça limpeza antes de um novo deslocamento. Há os que estão sujos e prontos para receber qualquer um a qualquer tempo. Os lotados demais, eu sugiro esperar e pegar o próximo.

Em caso de emergência, evite-o. Mas às vezes ele é a própria causa de sofrimento. A chance de falha é grande, ele precisa de fonte de energia.

Mesmo com alimentação constante, apagões acontecem. Uma vez que se entra, não tem mais como sair. Só com um empurrão, um trabalho manual.
Vemos nos filmes os vilões o sabotando, mas na vida real é a gente que pensa demais nos seus perigos. Se formos calcular todos os riscos, nem saímos de casa.

Especialistas confirmam que existem chances de acidentes ao longo do percurso, que deixam até cicatrizes. Muitos tem fobias, dá trabalho para os psicólogos. Outros acham que já é drama.

Há quem realmente não acredite nele até os dias hoje. Duvido que tenha alguém que nunca tenha se aventurado a passar por essa experiência.

Alguns relatam que flutuam, mas o mais provável é a queda. Cair, em inglês. Tombar, em francês. E, na nossa língua, simplesmente amar.

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Isabelle Miranda - isavmiranda

E-mail: isabellevmiranda@hotmail.com

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